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Robert Johnson Filho Do Diabo
Patrizia Barrera
A trágica história de Robert Johnson, grande músico do estilo Blues dos anos 30, a resolução do mistério do seu trágico fim, os bastidores e a discográfica completa.
Um romance emocionante e uma pesquisa histГіrica sobre a breve vida de Robert Johnson, considerado pela maioria como o avГґ do Rock mas muito amado pelos apaixonados do Blues. Uma narração aliciante e talvГ©s a solução de um enredo enigmГЎtico denso de esoterismo e fanatismo religioso que levaram Г morte violenta e prematura daquele que foi difamado como Filho do Diabo. O que da arte de Robert Johnson pode ser definido malГ©fico? Realmente estabelece um pacto com SatanГЎs para obter fama e honra no mundo da mГєsica? E qual foi realmente a causa da sua morte? Descubramo-lo juntos neste livro envolvente e fluidГssimo que vos tocarГЎ o coração.
Patrizia Barrera
Direito autoral
Robert Johnson Filho do diabo
D ireito autoral Patrizia Barrera 2021
Tradução Aderito Francisco Huo
Editor Tektime
Rha Production
Agradecimentos
Livro original, fruto de uma longa pesquisa e muita paixГЈo
Obrigada a todos aqueles que apreciarão e conservarão no coração este livro.
Patrizia Barrera
Julho de 2015
PARA LA' DA LENDA
Um rapaz Гєnico
As vezes gosto um pouco de demonstrar a falsidade dos mitos, reduzi-los a uma dimensГЈo mais humana. Г‰ o caso Robert Leroy Johnson, desde sempre definido demonГaco, enigmГЎtico, ligado num certo sentido ao Maligno e Г quela imagem dark (sombria) de pioneiro do Rock.
Sobre ele diz-se de tudo e mais se bem que, como para muitГssimos artistas da Г©poca, os dados biogrГЎficos Г nossa disposição sejam realmente pouquГssimos. Mas talvГ©s Г© propriamente a lenda que incide na imortalidade da sua figura e que, a meu ver, acentua tambГ©m a dimensГЈo artГstica. NГЈo posso esconder que a sua personagem nГЈo me Г© simpГЎtica e provavelmente muitos de vocГЄs vГЈo me odiar por isso: todavia nГЈo Г© meu costume ter papas na lГngua, mas pelo contrГЎrio adoro trazer Г luz verdades desconfortГЎveis. No caso de Robert Johnson dediquei-me para remontar Г realidade VERГЌDICA dos factos… e vos garanto que achei realmente pequenos bocados apetitosos para vocГЄs, leitores! Mas vamos por ordem.
Uma infГўncia certamente difГcil mas de modo nenhum obscura como muitos afirmam.
A mГЈe chamava-se Julia Major e era certamente uma rapariga... muito exuberante! Em 1889 casara com um tal Charles Dodds, que possuГa uma parte de terra e tambГ©m uma pequena loja de mГіveis de vime. O homem parece que fosse de origem hebraica e nГЈo era muito bem visto na pequena Hazlehurst, sobre o MississГpi, onde a famГlia vivia. HГЎbil comerciante atraia frequentemente a inveja de outros pequenos proprietГЎrios da zona, provavelmente mesmo irritados pelo facto de que nГЈo fosse um “americano genuГno”.
Eis a primeira casa de Robert Johnson em Hazlehurst. JГЎ era uma ruГna quando nos anos 90 a pequena cidade resolveu restaurГЎ-la e tornГЎ-la um museu. A casinha foi construГda por Charles Dodds e inicialmente tinha um pГіrtico, que Г© visГvel mesmo em algumas fotografias antigas de Johnson. Comodidade da Г©poca: a casa gozava tambГ©m de ГЎgua corrente.
Sabe-se que na época as coisas precipitavam-se muito depressa: chegado nas mãos com os Irmãos Marchetti (e parece que aqui tenha escapado também o morto!) Charles foi forçado a fugir na mesma noite, em 1909, deixando perder as suas peugadas.
Eis a mesma casa, restaurada, come aparece hoje.
Ficando sozinha com 10 filhos nas costas a pobre Julia nГЈo sabe o que fazer: isolada, apontada, objecto de vГЎrios vexames nГЈo consegue pГґr a funcionar a pequena fazenda, que vai em ruГnas. No entanto o marido transferiu-se para Memphis e mudou o nome para Spencer. Amealhando algum dinheiro de ambas as partes Julia consegue mandar, dois em cada vez, as crianГ§as mais pequenas ao pai atГ© quando permanece sozinha em Huzlehurst com as filhas mais grandes. E aqui a tragГ©dia explode: forГ§ada a fechar tambГ©m a pequena loja de mГіveis porque nГЈo consegue pagar as taxas e encontrando alojamento num casebre abandonado na periferia, a pobre mulher Г© forГ§ada a fazer aquilo que chamarГamoshoje “trabalhos sazonais” para sobreviver, recolhendo algodГЈo 12 horas por dia nas plantações vizinhas.
Aqui estГЎ o certificado original do recenseamento de 1920… neste perГodo o pequeno Robert jГЎ vivia com a mГЈe e o padrasto, Dusty Willis, em Arkansas. Г‰ interessante notar como o apelido da crianГ§a esteja indicado em Spencer.
InГєtil dizer que o casamento entre Charles e Julia quebra-se; em 1919 vimos esta Гєltima novamente casada com um certo Dusty Willis e o novo casal passa a viver em Robinsonville, no delta do MississГpi. Robert fica com eles mas a relação com o padrasto torna-se muito difГcil. O mocinho veio a saber pouco tempo depois quem Г© o seu verdadeiro pai e, rancoroso relativamente aos ambos padrastos, ostenta o apelido Johnson aos quatro ventos. Г‰ brigГЈo, irascГvel, sofre de dores de cabeГ§a contГnuas. Mesmo tendo precedentemente aprendido a ler e a escrever (alguns dizem que tivesse mesmo uma boa grafia!) nГЈo querendo ir mais Г escola, e nГЈo obteve nem sequer o diploma de segundo grau. A sua Гєnica consolação era dirigir-se Г margem do rio e tocar a gaita-de-beiГ§os e a harpa do hebreu.
Em casa Г© absolutamente inГєtil e trabalhar nos campos nГЈo se fala tГЈo-pouco. Em 1920 a pequena famГlia transfere-se para Arkansas em Lucas Township, Crittenden Country, como parece demonstrar um recenseamento de 1920, mas as coisas nГЈo correram da melhor forma. Г‰ sabido que Robert tivesse um olho “bailarino”, isto Г© um olho pequeno do outro, e que acusasse notГЎveis dificuldades de concentração. Sussurra-se que pudesse ter sofrido de epilepsia... mas nГЈo tenho a vontade de confirmar este dado, mesmo porque muitas crises de agressividade tГpicas da idade de adolescГЄncia podem ser confundidas com esta doenГ§a. E parece que o bom Robert de crises tivesse tido bastantes, visto que, no fim, a famГlia resigna-se Г sua debandada!
Cowboy e ruas de far west. Aparecia desta forma a Crittenden County em 1920.
Aos 14 anos comeГ§a a frequentar as barcaГ§as musicais nas margens do MississГpi, a fumar, beber e a frequentar mulheres. Contagiado pela musica de Son House e Willie Brown, refugia-se no Blues, mas a mГєsica “maldita” invadiu a famГlia, que condena de todas as maneiras ao ostracismo esta sua paixГЈo. Nasce talvГ©s neste perГodo a mania do jovem Johnson de tocar nos cemitГ©rios e nos matagais obscuros: muito remontas do pensamento do “demГіnio”, o pobre Robert procura simplesmente um lugar oculto para praticar em paz a sua paixГЈo e chorar em silГЄncio. Ainda nГЈo tocado pelo Maligno, aos 15 anos torna-se um adolescente irrequieto e, na verdade, um desajeitado.
Agora, antes de ir mais além, queria deter a vossa atenção sobre esta famosa harpa do hebreu, da qual muitos falam. Se procurarem ver por aà na Web, encontrarão muitos artigos sobre o Robert Johnson que afirmam que a tocasse… sem ir mais ALÉM na descrição.
Todavia este pequeno instrumento por si sГі diz muitГssimo sobre a psicologia e, acima de tudo, sobre as capacidades artГsticas - musicais do jovem Johnson!
Aqui estГЎ uma harpa do Hebreu de 1900. Provavelmente o pequeno Robert aprendeu a tocar uma destas nas barcaГ§as do MississГpi.
A Jew’ s harp Г© praticamente… um BERIMBAU, um instrumento de origem jipsy que era tocada pelos NГіmadas do Rajastan jГЎ a partir de 1500 e que, como muitos outros, chegara nas margens do MississГpi juntamente com os imigrantes italianos e Hebreus, que o tinham adoptado. Hoje como ontem chamar alguГ©m de Jipsy era chamГЎ-lo de forma pejorativa, isto Г© “cigano”. O pequeno instrumento era portanto quase o sГmbolo de um estilo de vida fora dos esquemas, para nГЈo dizer vagabundo. Era ainda mais muito fГЎcil de arranjar, fabricar e tambГ©m tocar; nГЈo era exigida nenhuma habilidade especial, se nГЈo a constГўncia. Provavelmente Johnson o utilizava tambГ©m para alcanГ§ar alguns estados de transe e de bem-estar (hoje os chamarГamos de “petas”) porque as vibrações do instrumento juntamente ao uso do ГЎlcool induziam a uma forma de distanciamento da realidade e da dissociação, tГ©cnica provavelmente aprendida nos bares mal reputados do delta.
A harpa do Hebreu, de matriz evidentemente Afro, é ainda hoje difundida na Nova Guine, entre os Papua. Claramente com as devidas modificações.
AlГ©m de tocar a harpa e a gaita-de-beiГ§os, o nosso Robert parece que tivesse iniciado tambГ©m a trabalhar um pouco para sustentar-se, sobretudo quando as relações com a mГЈe e o padrasto desfizeram-se totalmente. Estamos em 1928 e Johnson trabalha como assalariado rural na Plantações Abbay-Leatherman perto de Robinsonville. Aqui muito provavelmente encontrou o primeiro e Гєnico grande amor da sua vida, Virginia Travis, que depois casou com ela dos seus 18 anos de idade em Penton, MS, 17 de Fevereiro de 1929. Os dois sem dinheiro e passam a viver em casa da irmГЈ desta, Bessie, e do cunhado Granville Hines. Parece que a modesta casinha baseada nos arredores de uma comunidade que agora nГЈo existe mais, a New ГЃfrica, mas para ter uma ideia de como estivesse orientada socialmente e culturalmente podem dar um salto em New Road ГЃfrica em direcção a Clarcksdale. Trata-se ainda hoje de uma comunidade bastante rГgida, um pouco fechada e certamente animada por grande fervor religioso. Tudo parece bastante limpo e organizado, e a vida corre tranquila conforme um ordenamento social suficientemente… de ferro. Viver ali em 1929 nГЈo devia ser canja... para um tipo como Robert Johnson!
Uma rarГssima imagem que retrata Robert Johnson na marquise da sua casa em New ГЃfrica, onde vivia com a mulher Virginia, a irmГЈ desta e o cunhado. Isso em 1928
Se bem que trabalhasse e amasse a mulher, uma tГmida e amГЎvel dos seus quinze anos empenhada nos trabalhos domГ©sticos, Г© sabido que Johnson nГЈo tolerava a vida rural e que fugia de casa muitas vezes. Retirava-se nos bares mal reputados e nas barcaГ§as no rio em perseguição de um sonho. Enfim corrompido pela mГєsica Blues e pela obsessГЈo fanГЎtica por Charlie Patton e Son House ficava muito pouco ao lado da esposa, que enfim estava grГЎvida do primeiro filho. Mas a tragГ©dia estГЎ logo atrГЎs da esquina. Na noite 9 e 10 de Abril de 1930 Virginia morre de parto com o pequeno Claude Lee: Robert nГЈo estava com ela mas sim a tocar para clientes bГЄbados nas barcaГ§as do MississГpi.
Quando volta a casa dois dias depois encontra a esposa morta e sepultada e o ostracismo de toda a comunidade que o difama como dissoluto, libertino e escravo do demГіnio. Agredido pela cunhada Bessie que o acusa publicamente de “ter vendido a alma ao diabo e de ter desta forma matado a sua esposa” o rapaz Г© literalmente despejado fora de casa, humilhado, ferido e completamente devastado na alma. Desapareceu no mesmo dia e comeГ§ou a vaguear nos comboios de mercadorias de cidade em cidade assumindo de quando em vez vГЎrios nomes: Robert Spencer, Robert James, Robert Barstow e Robert Sacks. Encontrado durante um curto perГodo em Hazelhurst, provavelmente Г procura de um conforto. TalvГ©s encontrado em casa de um dos meios-irmГЈos do padrasto Charles que lhe ensinou os elementos da guitarra, e antes lhe ofereceu uma, uma Gibson Kalamazoo que ele conserva atГ© a morte. Ao certo aqui casa-se com uma mulher muito mais grande do que ele, Calletta Craft, que casam-se secretamente em Maio de 1931 e que nГЈo sГі lhe deu um filho mas que lhe permitiu (ou melhor favoreceu) a frequentação com aquele que foi indicado como “o Diabo em pessoa”.
FILHO DO DIABO
O maestro obscuro
Mas quem era esta obscura figura, desde sempre comparada ao diabo? Foi por causa desta pessoa que Robert Johnson fez o famoso PACTO vendendo a sua alma para obter sucesso e habilidade tocando a guitarra? Foi realmente este homem o famoso mentor que o acompanhou à “encruzilhada” onde foi evocado o maligno? Vejamos como ocorreram os factos.
A lenda sobre Ike Zimmerman nasce a partir de um famoso testemunho de Son House, que conheceu Robert em 1930 num dos bares em Mississippi. Na Г©poca a euforia do blues era palpГЎvel e acontecia que aos mГєsicos se unissem uns fregueses e umas noivas tocando juntos, propriamente como num Jam session de hoje. Pois bem Son House refere que Robert Johnson tocava a guitarra como uma enxada e que muitos clientes lhe pediram para mandar calar o rapaz que causava uma dor de cabeГ§a Г gente! Apenas Г distancia de um ano a partir deste episodio os dois encontraram-se de novo… e desta vez Johnson deixa todos de boca aberta pelas capacidades incrГveis e a velocidade ao dedilhar as cordas que tinha desenvolvido apenas num ano e foi uma vez ainda Son House juntamente com o seu alter-ego Willie Brown a sugerir que sГі vendendo a alma ao diabo pode-se tornar excelente em tГЈo pouco tempo!
E já que naquele breve ano todos recordavam de ter visto o jovem Robert na companhia de Ike Zimmerman "a tocar blues", e ainda por cima sobre as lápides do cemitério nos arredores da aldeia, a combinação entre o Talento – Zimmerman - Demónio foi quase automático.
Eis o “ bisbilhoteiro” Son House à época dos factos
O boato circula e a lenda do pacto com o diabo ganhou imediatamente forma: enfim foi o mesmo Robert Johnson a fixá-la definitivamente exprimindo-o na sua CROSSROAD BLUES. Depois, como acontece nestes casos, a lenda espalhou-se mais rapidamente do que ele e talvés o absorveu, transformando-o num artista “querido e danado” destinado (como depois foi) para uma intensa e curta vida de sucessos e para uma morte dramática e repentina. E Zimmerman em tudo isto... que parte teve?
Encontrei muitas noticias sobre ele... numa rГЎdio de Alabama, que entrevistou Г filha dele alguns anos atrГЎs, na ocasiГЈo da reivindicação de alguns trechos do pai pois publicados por Robert Johnson. A imagem que aparece Г© bem diferente daquela que se encontra por aГ!
Isaia " Ike " Zimmerman (mas o apelido originário parece ser Zinnerman) nasceu em Grady, em Alabama, em 1907. Embora desenvolveu cedo o amor pela música é forçado a trabalhar desde criança como agricultor na pequena firma familiar. No tempo livre lhe agradava contudo pôr-se a andar tocando por aà nos bares e parece que em Montgomery fosse muito conhecido. Nesta alegre vila terá como mulher uma certa Ruth, que era uma cozinheira num
Dos melhores hotГ©is do sГtio. Com ela se transfere para um lugar chamado The Quarters, em Beauregard Road.
Г‰ interessante notar como o pequeno aglomerado de 6 casas residisse concretamente ao lado de um cemitГ©rio e que a casa de Ike se encontrasse na boca de um cruzamento, como narra a filha. Aqui a pequena famГlia alarga-se, ele acaba por mudar de trabalho mas nГЈo perde por ventura a paixГЈo pelo blues que, como sempre, nГЈo Г© bem visto pela gente do sГtio. Todavia Г© muito ГЎgil nГЈo sГі com a guitarra mas tambГ©m com outros instrumentos, e tambГ©m bom maestro e parece que a um certo ponto tenha comeГ§ado a deliciar-se no ensinamento da guitarra… Г s mulheres! Mas um motivo de contraste com a pequena comunidade, se pensarmos que nos primeiros anos 20 a sociedade, seja negra como branca, nГЈo via com bons olhos que as mulheres se “aculturassem”. PorГ©m imaginemos a tocar o blues!
Zimmerman acaba desta forma a dar aulas…nos cemitГ©rios, e nГЈo sГі naquele de Beauregard decerto em todos aqueles da zona, jГЎ que ia com frequГЄncia passeando. O porquГЄ desta medonha escolha e muito simples: tratava-se de lugares sagrados, tranquilos e um pouco fora de mГЈo, lugares em que nem a mais excitada cabeГ§a quente do subГєrbio teria ido com invectivas… ou pior. Com o tempo, a figura de Ike vem “absorvida e tolerada” e comeГ§ou a fazer parte da paisagem. As suas breves incursГµes o levaram a Martinsville, onde habitava o irmГЈo Herman e onde ele fixava-se muitas vezes num bar na Г©poca chamado ONE STOP porque toda a zona tinha uma Гєnica paragem de autocarro. Exactamente aqui acontece o fatГdico encontro entre Zimmerman e Johnson.
Ouvindo os testemunhos Robert estava sem um tostГЈo e fixava-se no bar para restaurar-se e tocar um pouco. Os dois simpatizaram de imediato e Ike convidou o rapaz sem dinheiro, que demonstrava um grande amor pela guitarra e uma forte vontade de aprender a tocГЎ-la, para a sua casa. Johnson aqui fica um ano inteiro. Toda a famГlia Zimmerman afeiГ§oa-se pelo rapaz e as crianГ§as brincam com ele. ГЂ noite reuniam-se todos Г volta da fogueira para tocar baladas tradicionais ou mesmo algumas canções tГpicas da famГlia zimmerman. Ouvindo os testemunhos dos filhos, parece que as famosas Ramblin' on my mind e Come on into my kitchen, publicadas por Johnson, eram na verdade canções compostas por Ike cujo depois Johnson apoderou-se.
Seja como for os dois empenhavam-se muito: no sГЎbado e no domingo subiam a pГ© ao longo de uma rua terraplanada atravГ©s dos bosques, atravessavam um cruzamento (!) e depois encaminhavam-se Г direita para entrar num cemitГ©rio onde se exercitavam tocando, seja de dia como de noite. Ou melhor, muito de noite, visto que o bom Ike de dia trabalhava como operГЎrio para sustentar a famГlia! ГЂs vezes Robert voltava ao encontro da mulher Callie... mas para brevГssimas pausas. AlГ©m da guitarra parece que Zimmerman o tenha ajudado a afinar a arte da gaita-de-beiГ§os e que tenha sido co-autor de muitas canções entre as quais depois foram gravadas pela Okeh, alguns anos depois.
Pouco tempo depois comeГ§aram a exibir-se em “duelos musicais” em toda a zona Juke e Martinsville: desafiavam-se em toques de guitarra no meio das ruas e no fim partiram para Texas, onde os seus caminhos separaram-se. Robert voltou para o norte para espantar os seus colegas mГєsicos com as adquiridas habilidades, e Ike depois deixou Beauregard para transferir-se com a famГlia antes para Los Angeles e no fim para Compton, na CalifГіrnia, onde empreendeu uma actividade pastorГcia. NГЈo parou por acaso de tocar o blues e morreu tranquilamente na sua cama em 1974.
Uma rarГssima foto de Ike Zimmermann quando fazia-se de mentor ao jovem Johnson.
Tudo aqui? E entГЈo, o Pacto com o diabo?
Digamos que, se mesmo nГЈo queremos trazer Г baila o pobre DOCTOR FAUST, a ideia de vender a prГіpria alma ao Maligno… Г© histГіria antiga! Toda a tradição Afro-Americana e tambГ©m aquela Europeia estГЎ repleta de referГЄncias a esta prГЎtica; basta recordar o famoso conto de Irving Washington O diabo e Tom Walker de 1824, ou entГЈo O Diabo e Daniel Webster de Stephen Vincent Bennet de 1936. E o que dizer de uma dos ilustres predecessores de Robert Johnson, o mГєsico negro TOMMY JOHNSON que, triste e alcoolizado e na esteira do outro tanto arrasado CHARLIE PATTON, passeava por aГ ao longo do MississГpi gritando a sua BIG ROAD BLUES?
E se decerto queremos dizer a verdade, nГЈo foi ainda Son House a sublinhar a “familiaridade” entre a histГіria de Robert Johnson e aquela do bluesman de St. Louis PEETIE WHEATSTRAW, que se autoproclamava “filho legГtimo de SatanГЎs?” enfim, se nГіs queremos
Chegar Г s histГіrias de casa nostra, o que Г© que acham de NicolГІ Paganini e de muitos seus trechos que se dizia de lhe terem sido ditados pelo demГіnio?
Em suma, fazer de um adquirido talento nato por uma dura dedicação e por uma predisposição inata uma lenda, e acrescentando pormenores inventados por cima por vanglГіria da parte de Robert Johnson e ampliar esta imagem por puros objectivos comerciais da parte das editoras que o produziram, nГЈo foi difГcil. Pena que depois o mГєsico DANADO se tenha engasgado sozinho alimentando as suas fГЎbulas!
Aqui estГЎ o Tommy Johnson, o primeiro filho do Diabo dos pГўntanos do delta. Todavia a figura deste mГєsico alcoolizado nГЈo criou problemas Г comunidade negra da Г©poca: por quГЄ? Veremos a seguir.
De todas as formas, o seu comportamento não era certamente edificante: entretendo-se em felizes encontros sexuais com a senhorita Virginia Mae Smith certamente dois meses depois da morte da sua pobre mulher, grávida esta de um filho que nunca quis reconhecer e fugido secretamente para casar-se com a abastada e várias vezes divorciada Callie Craft, dez anos mais grande, por únicos motivos económicos, disseminava por toda a parte rancores, discórdias e corações partidos.
Diferentemente de muitos bluesman que se metiam na cama de qualquer uma com o único objectivo de obter quaisquer trocados, uma garrafa e um pouco de calor, Robert Johnson explorava os seus dotes amadores com o cálculo preciso de um homem de negócios, vendendo-se a quem oferecia mais. Não considerava descabido deixar-se sustentar por mulheres idosas e endinheiradas, que sucedia, usufruia e muitas das vezes maltratava, para no fim abandoná-las quando encontrava o melhor. O seu segundo casamento acabou... quando Callie adoeceu (alguns dizem que por um aborto ou um filho nascido morto) e era necessário estar ao lado dela. De noite até ao amanhecer Robert a deixou para acompanhar-se nas suas incursões a uma estrelinha de passagem…
Entre 1932 e 1933 o encontramos muitas vezes em viagem: pedia boleia ou subia nos comboios como clandestino, e as vezes apanhava o autocarro. Durante um breve perГodo estabeleceu-se em Helena, em Arkansas, iniciando a ser sequaz entre os mГєsicos do local como Howlin' Wolf, Honeboy Edwards, Memphis Slim, Robert Nigthawk, Sonny Boy Williamson, sГі para citar alguns. Travou tambГ©m uma relação (outra vez?) com a linda Estella Coleman, ajudando depois o filho dela, o futuro bluesman Robert Lockwood Jr. a seguir o caminho para o sucesso.
Mas o seu companheiro preferido de peregrinação foi Johnny Shine, com o qual chegou até em New York e em Canada. Encontramos dados desta sua preferência numa foto que remonta talvés a 1933 e que deu a volta ao mundo como “a terceira foto desconhecida do grande Robert Johnson”…
Um jГЎ idoso Ike Zimmermann em 1974, dois meses antes da sua morte.
O MISTÉRIO NUMA FOTO
Da poeira a Ebay
A histГіria desta foto Г© extremamente singular: descoberta por acaso em Ebay em 2007 por um coleccionador, publicada na revista Vanity Fair em Novembro de 2008, foi enfim autenticada em Janeiro de 2013 depois de longas e atentas dissertações na sua originalidade. O que deixava duvidar, a parte a expressГЈo do jovem Robert que aqui nГЈo parece ter precisamente NADA de demonГaco, Г© que os botГµes do casaco de Shines parecem estar ao “feminino” a nГЈo ser que o jovem Shines nГЈo ousasse usar o casaco da irmГЈ Г© portanto presumГvel que a foto original estivesse “virada” e que por conseguinte o mГєsico caracterizado como Johnson fosse na realidade canhoto, outro ponto a favor relativamente a sua natureza… luciferina!
Aqui está a foto de primeira virada/rotação no verso certo
Até aquele momento, de facto, as únicas duas fotos “confirmadas” eram aquelas na posse da irmãzinha dele Carrie, pois que são aquelas que bem conhecemos; em ambas Johnson NÃO aparece de modo nenhum canhoto. Então como estão realmente os factos?
Temos vГЎrios testemunhos de Johnny Shines a respeito. Sabemos que este Гєltimo foi companheiro de Johnson durante alguns anos, de 1933 a 1935 c.a. e que ambos giraram em comprimento e em largura pelo Delta segundo as melhores tradições dos Ramblers. Shines nГЈo fala por acaso do presumГvel esquerdismo do amigo mas narra minuciosamente de como Johnny amasse tocar o Blues de costas em relação aos outros mГєsicos, enquanto virava tranquilamente de face quando se tratasse de tocar mГєsica do outro gГ©nero, aquela que os clientes frequentemente pediam, como as baladas do velho Sul.
Esta sua mania de virar-se de costas é bem confirmada também por Son House que, como sempre, a colora de voodoo (culto animista de origem africana). “Ele não queria que os outros músicos o reparassem nos olhos enquanto tocava e virava dando costas, provavelmente para que ninguém pudesse arrancar-lhe o segredo da velocidade das suas exibições. Sabe-se que ao diabo não agrada ser reparado na cara!”
Aqui está, bastam frases como estas para alimentar uma lenda! Muito mais simples supor um esquerdismo contrastado, uma hipótese, esta que esclareceria em parte também as dores de cabeça infantis de Johnson, as suas dificuldades de concentração, a irritabilidade e o não querer frequentar a escola.
O esquerdismo foi durante sГ©culos considerado um “sinal demonГaco” e nГЈo poucos indivГduos acabaram na fogueira durante o perГodo da Inquisição por este motivo!
Até na época moderna (e estou a falar da metade dos anos 70) tendia-se para corrigir esta diversidade enfaixando a mão da criança e estimulando para escrever com a direita!
Se portanto comparamos o ser esquerdino no inicio de 900 (sГ©culo vinte) na AmГ©rica, no Delta, junto duma comunidade negra e numa crianГ§a “bastarda” (portanto filho da culpa, marcado antes seu) que ainda por cima uma vez crescido “toque o blues”... Pois bem, podemos compreender a enormidade da carga psicolГіgica e emotiva que acompanhou o jovem Johnson durante toda a sua breve vida. Nesta Гіptica e fГЎcil supor que as improvisadas capacidades imputadas ao pacto com o diabo fossem simplesmente um reapropriar-se do esquerdismo perdido, talvГ©s prГіprio sobre o estГmulo do seu maestro Zimmerman, que soubera ler na alma afligida do rapaz.
Portanto, musicalmente falando, assistimos a um verdadeiro desdobramento de Robert Johnson: dum lado um artista capaz de tocar qualquer coisa se lhe pedisse em qualquer estilo, uma capacidade tГpica dos ramblers que deviam adaptar-se aos variegados gostos dos clientes dos bares; do outro um artista que deixava voar os dedos na guitarra tocando o blues… de costas...
No primeiro caso existe certamente a aquisição de um “método” que, se para Son House e outros músicos de raça era inato, em Johnson era fruto de uma dedicação constante e disciplinado; no segundo existe pelo contrário o sentimento de libertação do blues, que vem por conseguinte executado segundo a própria natureza esquerdina e que vem mantida oculta aos outros, por motivos que dissemos.
De outra parte, que Johnson fosse um dissociado e um alienado Г© amplamente documentado: Shines relata como o amigo fosse afГЎvel e gentil com o pГєblico e violento e brigГЈo em privado, sobretudo com as mulheres que maltrata, espanca e abandona.
“Muitas vezes desaparecia precisamente no momento em que estГЎvamos a tocar e me deixava sozinho – narra Shine – ficava fora alguns dias sem dar notГcias suas, depois voltava como se nada fosse. Eu sabia que amava arranjar sarilhos, aldrabar as mulheres casadas e mais de uma vez meteu-se em pancadaria com os seus maridos. Algumas vezes foi posto na prisГЈo durante algumas noites por bebedeira molesta e brigas. No inicio era bonito viajar com ele, subir e descer nos comboios, tocar em toda a parte onde tivГ©ssemos vontade. Johnson era amado pela gente, pois que sabia satisfazГЄ-la em tudo e por tudo. Mas quando comeГ§ou a meter-se com as mulheres mudou. Afogava a sua raiva em qualquer mulher que lhe chegasse ao alcance, batia nela atГ© a morte e depois vinha tocar comigo.
Dizia para mim “Ah… espancar uma mulher deixa sentir-me melhor!” e na verdade quase todas as canções que ele escrevia falavam de mulheres. A um certo ponto a convivГЄncia com ele tornou-se impossГvel e nos separamos.”
Um maduro Johnny Shine, anos depois da morte de Johnson… que toca as canções do amigo.
Em 1936 Johnson estava a ser afligido pelo anseio de gravar as suas canções e entrar no mercado discogrГЎfico. Dedicou-se muito, por isso, para ser recebido por HC Speir, um talent - scout branco que tomava conta de uma loja de discos em MississГpi e que jГЎ tinha descoberto grandes talentos como Charlie Patton, Skip James, Tommy Johnson e Son House. No que se diz, Speir reconheceu em pouco tempo as capacidades de Johnson mas, por uma antipatia de impacto, preferiu passГЎ-lo ao Ernie Oertle, um outro TC que se ofereceu de levГЎ-lo a S. AntГіnio em Novembro de ’36 para fazer uma sessГЈo de experiencia.
Isto acontece sala 414 do Gunter Hotel, onde a Brunswick Record tinha instalado um estúdio de gravação “ambulante”, como se usava na época.
Juntamente a Johnson, efectivamente, havia uma multidГЈo de mГєsicos apanhados aqui e acolГЎ no delta, Mexicanos acima de tudo e atГ© a Wagon Gang Chuck, um grupo musical muito solicitado naquele perГodo nos bares do Delta. Aqui Johnson, como relata Oertle, “ gravou acocorado e de costas, tanto que esforcei-me muito para posicionar os microfones”.
Todavia Oertle não se encantou assim tanto: estava habituado às manias dos Bluesman e aos seus rituais e pensou que Johnson estivesse simplesmente procurando “o ângulo de carga”, isto é o modo melhor para tirar o som.
Nesta primeira sessão foram gravadas, entre outras, l’ COME ON INTO MY KITCHEN, KINDHEARTHED WOMAN, CROSSROAD BLUES e TERRAPLANE BLUES, a única cujo Johnson escutou a gravação e que veio a ser um grande sucesso, vendendo na primeira semana muito bem 5000 cópias, um verdadeiro recorde para a época!
Nesta primeira experiencia de ensaio encontramos um ciclo de canções concretamente ligadas ao Sul rural, visceral e de impacto consideradas desde sempre “e mais verdadeira expressГЈo do melancГіlico Johnson”. Entre esta distingue-se Kindhearted Woman pela sua complexidade e por uma maior pesquisa do som; a letra Г© precisamente muito mais articulada que as outras e nГЈo Г© por acaso que durante anos, juntamente com a Crossroads blues, veio a ser quase uma insГgnia distintiva do artista.
Uma segunda sessГЈo foi feita em 1937 directamente em Dallas no Vitagraph Building situado na 508 Park Avenue, onde a Brunswick Record tinha o seu Quartel-general.
29 Canções no seu todo, mais alguns ensaios inacabados e umas gravações descartadas, para um conjunto de 41 gravações. Um nГєmero exГguo de trechos que todavia constituem um precioso patrimГіnio para a musica mundial.
De todas as formas, aquele de Robert Johnson foi um sucesso POSTUMO. Embora apreciado como mГєsico, as suas capacidades de inovação nГЈo foram bem compreendidas na Г©poca e nГЈo foi certamente a sua prematura morte a relegГЎ-lo num repentino esquecimento que o ocultarГЎ Г crГtica durante aproximadamente trinta anos. Em 1938, perГodo do seu mГЎximo sucesso, se perguntarem a qualquer um na rua Quem Г© Robert Johnson? NГЈo saberia responder; porГ©m saberia descrever para vocГЄs quantos cabelos tinha na cabeГ§a Son House. Todavia o seu nome comeГ§ava a ganhar espaГ§o entre os experimentados do sector visto que mesmo naquele ano o celebre John Hammond, produtor da Columbia Records, o tinha contratado para a primeira edição do pois famosГssimo “Da Spiritual ao Swing” atГ© Г Carnegie Hall de New York, como para dizer a consagração oficial do jovem Johnson! Imaginem que, quando se soube da sua morte, com Big Bill Broonzy que o substituГa no palco, foram observados dois minutos de silГЄncio e feitas tocar duas das suas Гєltimas gravações, entre uma enchente chocada e em lГЎgrimas.
Apenas se tivesse resistido e nГЈo deixar-se matar por Гєnicos outros dois meses, naquela noite Johnson teria desfrutado o seu merecido sucesso!
Eis a capa do disco do famoso evento cujo Johnson nГЈo pГґde participar… Г© notГЎvel a lista incrГvel de nomes de grandes ilustres.
Como se explica entГЈo esta sua escassa popularidade entre a gente comum?
Robert Johnson na verdade NГѓO FOI POR VENTURA famoso em vida, e a sua produção aparece irrisГіria relativamente Г quela dos outros Bluesman da Г©poca. Mas chegou ao auge, e pode-se dizer que foi redescoberto, nos anos 60 com a nova geração dos artistas Rock, em particular graГ§as a uma colectГўnea editada Paramount chamada KING of the Delta Blues Singer, que teve literalmente muita procura, tanto que foi reeditada em 1969 e por fim em 1970. Artistas como Eric Clapton e os Cream contribuГram claramente para o renascimento da sua estrela, gravando uma nova versГЈo de Crossoroads Blues, para nГЈo falar dos Rolling Stones que perderam o juГzo com a sua versГЈo de Love in Vain e Stop Breakin Down Blues.
Mas na verdade um tempo antes artistas menos notГЎveis tinham tentado de imortalizar Johnson.
Em 1951 Elmore James tinha gravado uma sua (especialГssima) versГЈo de I Believe I dust my broom, que nГЈo teve o merecido sucesso, enquanto a jГЎ celebrГssima Sweet Home Chicago tinha-se tornado o estandarte de muitГssimos Bluesman de excepção, primeiro entre muitos Muddy Waters, que por sua vez teria influenciado os Beatles.
Na verdade, Johnson encarnava uma realidade actualГssima durante os primeiros anos 60 Americanos: a imagem de um anti-herГіi danado, maldito e obcecado pelo demГіnio que canta o Blues quadrando-o a partir do interior se bem que harmonizava-se com a natureza revolucionaria da nova geração Americana. Ele nas suas canções “grita” literalmente a dor existencial de uma sociedade que nГЈo encontra mais dentro de si prГіprio, pontos de referГЄncia eficazes e que, com a espasmГіdica angustia, lanГ§a-se para um futuro obscuro e denso de incГіgnitas.
Se queremos, a produção de Johnson está repleta de mulher, álcool e violência, exactamente como na mais pura tradição blues. Contudo nas suas letras percebe-se o seu forte desgosto por aquilo que ele mesmo narra e do qual não é totalmente orgulhoso. O seu ritmo obsessivo de boogie (estilo de jazz/dança) recém-nascido, a sua voz estridente e nasal, a pausa entre as palavras, a utilização das micro tonalidades e as letras articuladas onde destaca a sua devastação moral, o seu sentir-se um “bastardo sem pátria” seguido pelos “demónios do remorso”, efectuaram uma mudança de grande impacto nos músicos da época, afectados pela mesma doença.
Nascidos numa dГ©cada de bem-estar e saudГЎveis princГpios familiares, os rapazes dos anos 60 sentem-se esmagados por uma sociedade onde a tradição tem o sabor de uniformidade e onde o conceito de PГЎtria vai demasiadamente de braГ§o dado com a palavra GUERRA. Foi depois o campo de Vietname e a rotura que consegue dar a eles a voz certa; entretanto o mundo exige uma mudanГ§a e isso acontece, como regra, atravГ©s da mГєsica. Nasce portanto a geração ROCK.
Fortemente influenciados pelo blues, os Rolling Stones pois tornaram-se Гcones vivos de viver o Rock. Os seus concertos entre os anos 60/70 eram recheados de droga, ГЎlcool e rituais obscuros. Frequentemente foram protagonistas de rituais pseudo - satГўnicos e diz-se que foram espectadores impassГveis tambГ©m de verdadeiros homicГdios executados nos seus espectГЎculos por grupos perturbados.
Ser Rock, na AmГ©rica daquele tempo, equivale a “quebrar com os esquemas, refutar a tradição, pГґr em discussГЈo as convenções e aspirar a uma sociedade de verdadeira agressГЈo, onde os conceitos da Humanidade e Progresso nГЈo sejam palavras escritas no papel. Г‰ indicativo portanto, e mesmo natural, que Johnson com a sua mГєsica maldita e as suas inovações estilГsticas, que pretendiam fazer da guitarra a “verdadeira voz da alma”, viessem utilizadas como ponto de partida para a construção deste novo mundo. Ainda mais o SatГўnico Artista, com os seus trechos delirantes e evocativos, as letras onde se auto-define “ danado”, o seu evidente desprezo pelas mulheres e a descrição atГ© bastante particularizada de um estilo de vida degradado e inclinado ao vicio, NГѓO PODE nГЈo ser um Гcone ideal para uma geração que faz da sua atitude de rotura um estilo de vida. E depois, a famosa trГade “droga sexo e rockВґn roll” sobre a qual assentou-se toda uma geração de jovens Americanos entre os anos 60 e 70 nГЈo tira disso uma grande lição da Johnsoniana conduta “álcool mulheres e Blues”?
Nefastamente, posso sugerir que talvГ©s nГЈo Г© tudo ouro o que brilha. Uma das caracterГsticas que tornaram Johnson cГ©lebre e lhe deram sempiterna memГіria foi o seu ritmo exuberante e eclГ©tico, muito diferente daquele dos Bluesman do Delta dos anos 30.
Para dar-vos uma ideia, quando Keith Richards escutou pela primeira vez uma das suas gravações, questionou-se: “mas quem é o outro guitarrista que toca com ele?” uma vez que não se apercebera que Johnson estava sozinho. Isto porque todo trecho mantinha desde o inicio até ao fim um ritmo articulado e veloz, e a voz dissonante e nasal de Johnson tinha o sabor de um verdadeiro “grito”.
Todavia existem declarações autenticas do Director Executivo da Sony, Berhil Cohen Porter, que venceu um Grammy em 1991 pela reedição das obras de Johnson, relativamente à possibilidade que as
gravações de 1936/1937 pudessem ter sido tornadas mais rГЎpidas, um hГЎbito tГpico da dupla Okeh /Vacalion, que amavam fazer caprichos semelhantes.
Em 2010 foi John Wilde, no famoso empório musical THE GUARDIAN, a sublinhar que as gravações de Johnson tivessem sido intencionalmente aceleradas para conferir um “toque de modernidade” ao conjunto.
DifГcil dizer realmente em que pГ© estГЈo as coisas, jГЎ que as matrizes originais das 78 rotações de entГЈo nГЈo existem mais. Mas se isso fosse verdade a mГєsica de Robert Johnson, definido o AVГ” DO ROCK, viria talvez reinterpretada.
Comparaçao entre a foto achada em Ebay (a sn) e aquela conclamada de Johnson. São notáveis as enormes diferenças entre as duas. Embora as analises computorizadas sobre a anatomia facial de Johnson tenham confirmado com segurança que ambas as fotos retratam o artista, fica por esclarecer O QUE pudera nele modificar em tão breve tempo a expressão e o somatismo do rosto. Talves... o pacto com o diabo?
Na verdade ele entrou na ROCK’ N ROLL HALL OF FAME com quatro canções de estreia NÃO Blues mas Rock. De facto com Sweet Home Chicago e Cross Roads Blues de 1936, e Hellhound on my Trail e Love in Vain de 1937. Do outro lado, sem a sua lenda, talvés HOJE o universo da música Rock não seria o mesmo, vista a sua influência sobre os monstros sagrados como Eric Clapton que começou a carreira exactamente na esteira das músicas do maestro; ou os Led Zeppelin que o homenagearam com o fantástico TRAVELING RIVERSIDE BLUES, onde as referencias à música e às letras das canções de Johnson perdem o seu tempo! Em suma, a partir de Jeremy Spencer ao Fletwood Mac e ao Peter Green, América e Inglaterra apertaram-se a mão para consagrar Johnson “Maestro Espiritual” da nova Era.
O que Г© seguro. Г‰ que Robert Johnson nГЈo desfrutou por acaso o seu sucesso e que teve uma morte prematura e sombria. Nem o local da sua sepultura Г© oficilmente notГЎvel e isso alimentou durante anos a lenda de que talvГ©s nunca tenha existido. Mas a mim os mistГ©rios nГЈo agradam e procurei descobri-los.
Eis aqui o que descobri para voces...
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